
O grupo político situacionista em Mato Grosso, que inclui os aliados do atual governador, Mauro Mendes (DEM), e boa parte do agronegócio – responsável por eleger, Carlos Fávaro (PSD) – já definiu o nome do atual deputado federal, Neri Geller (PP), como aquele que buscará por eles o Senado Federal, em 2022.
Geller, com base eleitoral em Lucas do Rio Verde-MT, e que tem no currículo uma passagem como ministro da Agricultura de Pecuária, ainda no Governo de Dilma Rousseff (PT), é considerado alguém que consegue transitar com boa desenvoltura pelos bastidores e tem o aval dos barões da soja, principais financiadores de campanha no estado.
“Ok” partidário
Da parte da direção nacional do seu partido, o PP, o sinal verde também já foi dado a Geller, com a condição de que ele garanta a articulação para a formação de uma boa chapa para disputar as oito vagas à Câmara Federal no estado. A ideia dos líderes progressistas é garantir, pelo menos, o seguimento de uma cadeira, hoje exatamente ocupada por Neri.
As eleições do ano que vem, pela primeira vez, não terão a possibilidade de coligações, ou seja, cada sigla terá que atingir o quociente eleitoral de maneira independente. Aos interesses financeiros dos dirigentes partidários, mais vale cadeiras na Câmara Federal do que no Senado Federal, já que é a partir da representatividade atingida no primeiro parlamento citado que se calcula a divisão do bolo dos fundos eleitorais e partidários.
Reflexos
Por mais que Neri tenha viabilidade financeira, até por tudo que vai representar sua candidatura ao Senado Federal, para montar uma boa chapa de candidatos a federal pelo PP, a verdade é que sua não-candidatura abre caminhos para novos e velhos nomes da política estadual. Um deles é Nilson Leitão (PSDB), que deve disputar uma vaga na Câmara Federal e embora não seja da cozinha de Blairo Maggi e cia, já foi presidente da Frente Parlamentar da Agricultura e transita bem no setor.
Mais um round
Já em relação ao Senado Federal, a confirmação de Neri na disputa vai novamente colocar frente a frente o grupo onde o atual senador, Wellington Fagundes (PL), lidera, com apoio da esquerda e outros membros do centro, contra Mauro Mendes e a chamada “turma da botina”. Fagundes, aliás, tem acelerado seus trabalhos nos bastidores para chegar forte no pleito, em busca da reeleição.
PP forte
O ganho de força de Neri, aliás, tem dois pontos importantes que o justificam. O primeiro é a ascensão nacional do PP, que acaba de conseguir o comando da Câmara Federal com a eleição de Arthur Lira (PP). Ciro Nogueira (PP), senador e presidente nacional do partido, já declarou publicamente que apoiará a reeleição de Jair Bolsonaro (PP), a quem, inclusive, faz lobby público para se filiar ao partido.
Vacinados
A articulação precoce por Geller e uma provável aproximação antecipada com Bolsonaro para fortificar o projeto, também é resultado de uma instabilidade e “racha” recente que fez o agronegócio perder força politicamente. A classe se viu sem representante no Senado Federal, após as eleições de 2018. Com as vitórias de Jayme Campos (DEM) e da juíza Selma Arruda (PODE), os produtores mato-grossenses ficaram sem ter com quem dialogar com intimidade no alto parlamento.
A divisão de votos que acabou ocorrendo com a candidatura de Adilton Sachetti (REPUBLICANOS), Carlos Fávaro (PSD) e Nilson Leitão (PSDB) foi um erro estratégico que não deverá ser mais repetido. Aliás, a vitória de Fávaro na eleição fora de época de 2020 ao Senado, resultado da cassação de Arruda, já mostrou claramente que o grupo conteve as vaidades pessoais, se fechou e com isso voltou a dar as cartas na política estadual.
Nas mãos do Agro
Mesmo com a enorme liderança e influência exercidas pelo atual presidente da República, que se relaciona bem, mas não é lá um aliado de primeira hora do grupo, a força que vem do campo tem tudo para novamente fazer a diferença nas urnas mato-grossenses na próxima disputa. Muito disso também pela falta de articulação dos bolsonaristas, que hoje se resumem basicamente na figura do deputado federal, José Medeiros (PODE), e no desgastado Nelson Barbudo (PSL).
